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Montanhas do Paraná e do Brasil

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segunda-feira, 22 de março de 2010

Araçatuba, uma subida fascinante.

Morro Araçatuba

Fazer o Araçatuba é realmente fascinante uma montanha isolada da serra do mar, tão alta e íngreme que nem se percebe sua beleza, apesar de ser uma montanha realmente fácil de fazer, foi com certeza difícil de chegar. Errar a trilha é uma ação árdua, que lhe pode levar a outros lados da montanha e lhe fazer pensar "era para ser fácil, mas não foi".

Se preparando para a subida


Estávamos combinando a mais de uma semana fazer o Araçá, a idéia está partindo do treinamento para a travessia Ciririca/Graciosa. Resolvemos sair no dia 21/03/2010, para então fazer essa montanha que é usada até para treinamentos andinos. Eu, Wil e o Patrick somos até veteranos em montanhas no Paraná, conhecemos bem como se perder em trilhas e como achar também. Resolvi levar minha esposa Tanynha para essa empreitada, era a primeira vez que ela ia subir e acampar em cima de uma montanha, condições diferentes na qual ela conhece. Levemos também o nosso amigo Rafa que também estava fazendo sua primeira montanha de verdade, era sua primeira vez.


Rafa indo para seu primeiro cume

Saímos de Curitiba as 15:30 mais ou menos, Wil e Patrick estava nos esperando na Avenida das Torres, já na saída Curitiba/São Jose dos Pinhais. Na estrada uma chuva forte começou a cair, será o fim da nossa aventura? A chuva caiu até o começo do Matulão, ainda era duvidas sobre a subida. Quando chegamos na chácara onde deixamos o carro, o tempo ainda era duvidoso. Um ajuste aqui um ajuste ali, o céu começava a limpar, começamos a acreditar que não iria mais chover. A nossa subida já estava atrasada, a previsão era para as 16:00 mas já passava das 17:00, sabíamos que iríamos pegar noite na trilha.


Da esquerda para a direita, Patrick, Wil, Reginaldo, Tanynha e Rafa

A subida foi tranqüila, minha pequena me acompanhava nos passos, sem presa e apreciando todo visual, deixamos Wil, Patrick e Rafa irem a frente. Sempre paravam para que pudéssemos alcançá-los. Tanynha estava tranquila e sabia que ela ia conseguir chegar, mas não imaginava o que encontraríamos pela frente. Passamos pela única cachoeira e pegamos água para levar até o cume, rápidas paradas para tirar fotos e apreciando o sol que ia se pondo atrás das montanhas.


A caminhada estava indo muito bem, como não tinha conhecimento da trilha e o único que conhecia era o Patrick, deixamos que ele nos guiasse cume a cima. A noite começava a cair peguei as lanternas de cabeça dei uma para minha esposa para se preparar, pois tudo ia ficar escuro, sem lua e com muitas nuvens logo veio a escuridão total. E ali começa o desespero, sem tomar conta de que tínhamos passado da trilha que levava até o cume, começamos a percorrer outra trilha, estávamos indo para o lado errado.



Percebi que ali não era mais a trilha, estava totalmente fechado. Comecei a olhar para minha Pequena preocupado. Wil e Patrick se esforçaram ao maximo para achar a trilha de volta mas era em vão. A nossa sorte era que estava sem chuva e sem serração, olhávamos para o cume e apontamos, "temos que seguir por aqui".



A noite despenca, seguindo a montanha sem trilha em nossos pés fomos empeitando tudo, só se via as lanternas ruma acima. O meu maior medo era gretas, olhei para Tanynha e vi que ela não estava bem, preocupado cheguei até a cair num trecho, mas sem gravidade nenhuma. Ela sim ficou preocupada comigo. Tudo começou a ficar difícil, Rafa tinha esquecido a lanterna no carro, estava sendo orientado pelas nossas lanternas. Era a primeira vez que estava fazendo uma aventura neste nível. A primeira montanha que ele subiu foi o Anhangava, mas somente até o final na via Caninana, dali descemos de rapel. Araçatuba era oficialmente sua primeira montanha. Patrick sabendo que tinha errado a trilha seguiu para frente, na chance de achar uma maneira de chegar no cume.


Estávamos abaixo deles, preocupado tanto com a Tanynha, única mulher do grupo e tambem com a minha segurança, pedia varias vezes para nos esperar, para que pudéssemos ir juntos, cheguei ao ponto de até de perder a cabeça com tudo isso. Sem boa visibilidade tínhamos que ir juntos para não errar a trilha que estavamos fazendo e cair em buracos na montanha. Estava quase desistindo, pois não queria que ela se machucasse.


A caminhada começa a ficar cada vez mais difícil, sem trilha e subindo morro acima, começou vir varias idéias na cabeça, uma era matar o Patrick outra era achar uma boa clareira para acampar e esperar o dia amanhecer. Depois de passamos por maus lençóis, chegamos a um descampadão, paramos para comer algo e respirar, Patrick estava preocupado com tudo aquilo e seguia adiante para achar o cume. Não estávamos mais em perigo, mas ainda tinha muito que percorrer. A vegetação típica daquela montanha e a trilha era um verdadeiro banhadão. Não sabíamos aonde estávamos, mas era possível ver o litoral paranaense. Um vento forte começava a tomar conta da montanha que é normal, pois Araçatuba fica exposta para o oceano, facilitando os ventos fortes. Ela é considerada uma das montanhas mais geladas do Paraná. Continuamos nossa busca pelo cume, ao invés de pegarmos a direita que leva ao topo fomos pela esquerda. Bendita esquerda. Cansados e querendo logo chegar ao destino final, não importava mais, o jeito era encontrar uma clareira para acampar e escapar do frio. Descemos um vale, percebemos que ali não era ideal voltamos e seguimos mais adiante. Estávamos no cume falso do Araçatuba, e ali ficamos.

No cume, já no dia seguinte

Tanynha observando o sol nascer




Achamos um lugar bom para acampar, onde estávamos dava para ver toda baia de Guaratuba, chegamos ao cume falso as 20:30, como toda aquela aventura ninguém estava afim de comer nada, até preparei uma refeição, coloquei até água na panela, mas o desanimo e o cansaço tomava conta de todos. O jeito era fazer um lanche rápido e ficar se aquecendo dentro da barraca. Os três ficaram no lado de fora tomando um vinho para comemorar. Eu e Tanynha comemos algo e ficamos nos aquecendo, o vento estava forte e o frio começou a tomar conta de todos. Minha barraca já velhinha quebrou a vareta, tive que providenciar algo para fixá-la e torcendo para que o vento não terminasse de arrebentar a lona, um sufoco. Deu certo, ela ficou torta mas não nos deu trabalho algum, isso é bom, pois já estava na hora de comprar outra barraca nova.



Patrick refletindo



A serração tomou conta da Serra do Araçatuba, já não era possível ver mais nada. Ali ficamos até cair no sono. Umas duas da manha ouvi gritos de alguns jovens que estavam subindo o Araçatuba, mas não chegaram ir onde estávamos. Logo em seguida ouvi Patrick e Wil acordando para ver o céu estrelado, lembrei do Ciririca. Patrick falava "Vamos acordar o Reginaldo, vamos acordar o Reginaldo", mas eu preferi ficar ali quietinho e voltar ao sono do que sair para fora, estava muito frio. Segundo Wil, Rafa mesmo que estava ali pela primeira vez, só colocou a cabeça pra fora da barraca, e voltou imediatamente. As 04:00 da manha saí para ver como estava, e dar aquela mijadinha básica, Tanynha também saiu, o céu estava realmente lindo. Voltamos para a barraca, nos embrulhamos no saco de dormir que se transformar num de casal e voltamos a dormir mais um pouco. Acordamos as 06:00 da manha e o sol começava a aparecer, muitas fotos o visual estava lindo, sem vento e sem serração, era possível ver toda a Baia, o Araçatuba esta na nossa frente alguns montanhistas estavam la no cume, estávamos a uns 100 metros abaixo deles.

Um bom café da manha


Depois de um bom café, muitas fotos e apreciando tudo aquilo é hora de voltar pra casa. Com calma desmontamos tudo, Patrick estava ansioso para ver onde erramos, os outros montanhistas que estavam no Araça também já estavam indo embora. Vimos a trilha que segue para o cume do Araça, partimos para a descida. Tanynha e Rafa que fizeram isso pela primeira vez, estavam contentes por ter conseguido chegar até lá, fiquei até orgulhoso dela pela sua força de vontade e garra, essa é minha menina. Descemos com calma e paciência, vimos por onde passamos, realmente erramos feio estávamos bem longe da trilha. A descida foi bem traquila, até chegarmos na base da montanha descobrimos onde erramos.

A trilha era por aqui
Mas fomos por aqui

Numa rampa de pedra seguiria para a direita e não para esquerda. Continuamos nossa descida, paramos na cachoeirinha para descansar e tomar uma água, comemos uma barra de chocolate e partimos para a chácara.

Ja visualizando a chácara
As 10:30 estávamos onde tudo começou, olhando para cima vendo o morro que separa o Araçatuba, percebemos como foi valioso tudo aquilo, a persistência do Patrick de qualquer forma chegarmos em nosso destino final, a do Wil pela força e garra desbravando uma trilha desconhecida a coragem do Rafa que assim esta perdendo o medo de altura e principalmente da Tanynha, com bravura e determinação e com muita força de vontade conseguia nos acompanhar mesmo com dificuldade e com pouca resistência a nossa caminhada e eu é claro que aqui vivo estou contando mais uma historia de aventura pelas nossas montanhas.



O cume do Araçatuba não foi conquistado, não desta vez, mas com certeza será da próxima.